Nos bastidores, a gente nunca sabe a resposta certa para a pergunta que rege o espetáculo; e quando a sabemos, temos de mentir porque temos exatidão sobre o que elas significam. No palco, de última hora, bolamos uma fala, senão uma peça inteira, e o público acha natural: ri, aplaude, pede bis - é a nossa droga. Aliás, não há peça sem nossa plateia. Ela que nos amaldiçoa com a confusão, nos força ao mundo paralelo, nos estiga. São nossos carrascos à malha fina, os quais não somos fortes o bastante para causar rebelião. Vivemos puxados, não vivemos vivendo. Essa é a maldição do backstage, que todos julgam saber: além de viver por viver, desviamos de obstáculos equivocados. Tudo porque eles não sabem o que é ser peça pois nunca se está no palco. Somos mais densos que negras cortinas, mais nobres que expressões em lapso: somos mais que roteiro, ditosos passo a passo. E ao rir ou ao chorar, olhe ao público, e ache sua fala: é sua protagonização, mostre seu melhor. Seja o personagem; seja um, dois, três e quatro. Seja você mesmo, e se perca no balaio. Pegue a melhor customização por trás, enquanto no picadeiro a peça continua. Seja dois, um para depois. Espere que as luzes foquem seu rosto, fique nas pontas dos pés. Abra os braços com a tensão de um soluço engolido - e sorria. Então as rosas caem em seus pés. Permita-se sentir: o show é seu.
Epílogo:
Enquanto sentia o gosto peculiar de lágrimas à face, sorriu ao tocar-lhe os ombros. Sorriu sim. Aliás, o segundo personagem estava bem. Tudo bem, aguarde o segundo ato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário