As coisas às vezes simplesmente saem do seu controle. Não tenho explicação, peço desculpas. Elas descarrilam em alta velocidade, despejam-se por cima de você. É uma emboscada que não conseguimos ver através de nossos desejos, vontades e ambições — a não ser que elevemos nossos pés às pontas e consigamos ver por entre os ombros das nossas desgraças criadas. Lá no fundo, o problema. É a desonestidade da razão que vem em produto perfeito de graça, é a verdade feia que não se conta e se esconde na mentira bonita. É a praga que cresce e se reproduz parasitando sua felicidade. O trem na verdade pode ser muita coisa. Dependência é uma palavra que trota a língua, faz cuspir os lábios: é dura. É o lindo filhote que tornar-se-á a falha nos seus trilhos. A dependência é um mal que ronda aqueles de bom coração, a antítese da esperança, uma viela bloqueada. E antes mesmo que possamos perceber, estamos encarando o muro, enquanto atrás de nós vem um trem fora de controle. A dependência mata. Ela é a confiança que cresce e decepciona, é o sorriso grande que alarga-se demais. É o pior tipo de desgraça, que não se pode fazer mais nada para evitá-la porque ela é um processo: embora você consiga fazer com que o trem choque-se com o muro, o susto não te abandona. Longa dependência é sequela. Aprenda a se desvencilhar daquilo que te sustenta, seja base de si mesmo. Pule galhos porque embora cada vez mais encantadoras pareçam as árvores, elas nunca o sustentam até você decidir que não mais as quer. Elas têm o que você não possui: independência. Diga adeus. Nada dói mais no coração de um culpado do que o nascimento de consciência da própria culpa. BEFORE THE STORM
22 setembro 2012
Da falha.
As coisas às vezes simplesmente saem do seu controle. Não tenho explicação, peço desculpas. Elas descarrilam em alta velocidade, despejam-se por cima de você. É uma emboscada que não conseguimos ver através de nossos desejos, vontades e ambições — a não ser que elevemos nossos pés às pontas e consigamos ver por entre os ombros das nossas desgraças criadas. Lá no fundo, o problema. É a desonestidade da razão que vem em produto perfeito de graça, é a verdade feia que não se conta e se esconde na mentira bonita. É a praga que cresce e se reproduz parasitando sua felicidade. O trem na verdade pode ser muita coisa. Dependência é uma palavra que trota a língua, faz cuspir os lábios: é dura. É o lindo filhote que tornar-se-á a falha nos seus trilhos. A dependência é um mal que ronda aqueles de bom coração, a antítese da esperança, uma viela bloqueada. E antes mesmo que possamos perceber, estamos encarando o muro, enquanto atrás de nós vem um trem fora de controle. A dependência mata. Ela é a confiança que cresce e decepciona, é o sorriso grande que alarga-se demais. É o pior tipo de desgraça, que não se pode fazer mais nada para evitá-la porque ela é um processo: embora você consiga fazer com que o trem choque-se com o muro, o susto não te abandona. Longa dependência é sequela. Aprenda a se desvencilhar daquilo que te sustenta, seja base de si mesmo. Pule galhos porque embora cada vez mais encantadoras pareçam as árvores, elas nunca o sustentam até você decidir que não mais as quer. Elas têm o que você não possui: independência. Diga adeus. Nada dói mais no coração de um culpado do que o nascimento de consciência da própria culpa. 19 setembro 2012
Da queda.
Das feridas que nunca saram, brota a resistência de uma rebelde alma calada. Aos poucos guerreira, nunca mais rebelde, que, amadurecida, luta com as paredes que a aprisionam em um infindo calabouço obscuro e hermético. Não se sabe a causa da proteção; de fato, queria-se proteger, seja o mundo da alma ou a alma do mundo. Pobre alma cega que nunca viu o que há lá fora. Enquanto protesta contra sua ignorância, mais cega fica pelo odio que convive. Se houvesse uma janela, talvez soubesse que por mais fortes fossem seus pés descalços fincados ao chão ou seus gritos ecoando horizontes, suas ideias não passavam de uma inexistente paranoia ao mundo, um defeito. Seu destino é viver com o ódio, sua dor. Provável que um dia consiga sair, espreitando-se entre cílios que entreabrem-se no sono. E do lado de fora encontre o conforto no confronto. Que sua dor seja enfim vingada. E por mais sangue que em suas mãos regem, ou por mais perdões que seus olhos sintam, ninguém nunca vai saber o que tudo significa, porque ninguém está de fato compreensivo à sua dor. Portanto corra, arraste-se, liberte-se. Grite a cada golpe nas costas como olhares de passagens. Soque na cara os risos que gastavam sua vida. Pise naquilo que a impeça de viver em paz; e não olhe para trás, porque os olhos que te julgam pelas suas costas nunca conseguirão enxergar nela a dor e o pesar do seu passado.
Do nascimento.
Das lembranças que mais me doem, os cheiros são os que mais detesto. Dos rostos que mais me ferem, são os soslaios chorosos ao espelho que mais protesto. Das pessoas que me apertam o coração, minha mente forma um mapa. Dos acontecimentos que me aprisionam a memória, minha alma forma uma vida que aos poucos me mata. Das horas infindáveis de pensamento, meu silêncio era a pior verdade. Dos desejos mais violentos, do meu centro gritava-se liberdade. Das mentiras que abriam portas, as vielas me deixavam desatento. Dos momentos muitos que tinha só, de sorriso vivia aos sussurros do vento. Das dores que plantei, grandes lições eu vivi. Dos planos que reguei, grandes ideias que eu colhi. Das vezes que colei o rosto ao chão para o fim logo vir, foi o zumbido do ridículo que me fez levantar. Dos amigos e amores que desde então descobri, foi a mim a quem mais aprendi a amar. De uma existência tão surrada, pedras aos pés são flores vermelhas; vaias e gritos soam como valsa, o que se assemelha com vingança, que de esperança tem só o final — não me leve a mal: para quem já viu de tudo, o nada nunca parece igual.08 setembro 2012
Da consciência.
Nos bastidores, a gente nunca sabe a resposta certa para a pergunta que rege o espetáculo; e quando a sabemos, temos de mentir porque temos exatidão sobre o que elas significam. No palco, de última hora, bolamos uma fala, senão uma peça inteira, e o público acha natural: ri, aplaude, pede bis - é a nossa droga. Aliás, não há peça sem nossa plateia. Ela que nos amaldiçoa com a confusão, nos força ao mundo paralelo, nos estiga. São nossos carrascos à malha fina, os quais não somos fortes o bastante para causar rebelião. Vivemos puxados, não vivemos vivendo. Essa é a maldição do backstage, que todos julgam saber: além de viver por viver, desviamos de obstáculos equivocados. Tudo porque eles não sabem o que é ser peça pois nunca se está no palco. Somos mais densos que negras cortinas, mais nobres que expressões em lapso: somos mais que roteiro, ditosos passo a passo. E ao rir ou ao chorar, olhe ao público, e ache sua fala: é sua protagonização, mostre seu melhor. Seja o personagem; seja um, dois, três e quatro. Seja você mesmo, e se perca no balaio. Pegue a melhor customização por trás, enquanto no picadeiro a peça continua. Seja dois, um para depois. Espere que as luzes foquem seu rosto, fique nas pontas dos pés. Abra os braços com a tensão de um soluço engolido - e sorria. Então as rosas caem em seus pés. Permita-se sentir: o show é seu.
Epílogo:
Enquanto sentia o gosto peculiar de lágrimas à face, sorriu ao tocar-lhe os ombros. Sorriu sim. Aliás, o segundo personagem estava bem. Tudo bem, aguarde o segundo ato.
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